r e s p i r a
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Foi então que ela acordou.
Piscou suavemente algumas vezes para se acostumar à claridade que invadia o quarto. Seus olhos percorriam cada canto daquele lugar, tão familiar, mas agora tão diferente. Ela já não era mais a mesma.
Desadormeceu a preguiça do lençol amassado que a embrulhava como um abraço. Como um verdadeiro papel de presente, ela se viu entregue à vida.
Sentiu os seus pés tocarem o chão e, passo por passo, caminhou até a porta da varanda. O calor do dia recém acordado lhe beijou as maçãs do rosto com alegria. Ela sorriu.
Avistou no presente do futuro um céu violeta. Olhou para trás e viu as tantas camadas, os tantos caminhos, as tantas escolhas que a levaram para aquele exato momento, o momento do despertar.
A metamorfose de se reinventar.
Percebeu que ouvia uma música baixinho e distante, que lhe convidava a bater as suas asas. Sentiu uma energia vibrante a contagiando da cabeça aos pés e, de repente, se deu conta que a música vinha, na verdade, de dentro dela.
A cidade inteira assistia a sua transformação com entusiasmo. Enquanto ela se despia de seu casulo e se engrandecia de si mesma, pequenos fogos de artifício coloriam as nuvens no céu.
Sentiu-se transbordar de uma euforia imensa,
Sentiu seu corpo inteiro se redesenhar entre cores e formas,
Sentiu uma leveza que lhe tirava agora todo peso das costas.
Ela estava livre para recomeçar.
Sem hesitar, respirou fundo, pegou impulso e se jogou pelo ar.
Sentindo frio na barriga, ela ria e se divertia com o vento a fazer cócegas em seus cabelos.
Sobrevoando pela vida,
descobriu que ela era isso,
metade borboleta e a outra metade
exatamente o que ela quisesse ser.
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Com amor,
Seu Tempo